MEGA POEMIX

o chão vai ferver

já vejo bolhas (nos pés)

- calor da mulesta!

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a mulher deitada

gota de suor correndo

- calor da mulesta!

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tua boca de mel

virou um açude seco

- calor da mulesta!

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tem um cão vidrado

na minha galetv

- calor da mulesta

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o caminhão pipa

voa na brisesperança

- calor da mulesta!

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incêndio espontâneo

mata a mata dos cabelos

- calor da mulesta!

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moça destemida

os seus ossos chacoalhando

- frio de rachar

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dia das bruxas pra lá

e do saci por aqui

fumar cachimbo

do mesmo pé

(da vassoura não do saci)

e desse lápis

esse bendito lápis-personagem

(foi no dia da poesia

misturar os dois)

tudo muito assustador

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tá chovendo agora

olhamos inquietos

as nossas janelas

quando eu poderei sair

para te encontrar lá fora?

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POEMINNASAN

1.

cólera do dragão:

pandemia estelar

aquinafricoujapão

2.

primeiro de abril:

foi na loja de desejos

e pediu o inevitável

3.

até que era forte

foi só dar um empurrão

que foi lá lutar com a morte

4.

fantasia final:

quando é que minha espada

vai cortar o tal do mal?

5.

teletransporte

o cara piscou o olho

e foi lá no além-morte

6.

eis meu jeito ninja:

enquanto houver toco

não há nada que me atinja

7.

fantasia final:

peguem suas espadas

não há nada mais letal

8.

caras de catorze

corpos de dezoito

forças milenares

foram numa pescaria

mandar peixes pelos áries

9.

eis a raposa

ela posa de raivosa

mas é nada

mais que

mansa

10.

fantasia final:

faço a terra de navio

e navego pelo caos

11.

a bola é foda

a bola é fogo

a bola é foguete

com uma crosta de lodo

num navio adoidado

o capitão avoado

comeria ela de novo

12.

tela perdida

pincelei signos

a tinta secou a vida

13.

canção do inferno

o pássaro de hermes

leva a morte no bico

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O [DES]EDUCADOR

já escrevi

teu quadro negro

teus valores tua moral

tua futura cultura

corrigi teus ideais

(apague os seus)

pode copiar

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em terra de sujo

e mal lavado

que seja imperador

o menos encardido

que venha outro dia

essa noite já deu

essa noite

é uma criança na lama

sem mãe pra dizer chega

noite [d]e[s]terna

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CHÁLICE

boa mesmo

aquela raposa de nove caldas

salada de trutas

e chá de ontem

o futuro sentou conosco

só não teve sorte

com o biscoito

molhado no late

(azar o dele)

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adoro mesmo

aqueles famosos anônimos

atrás das câmeras

do filme da minha vida

por trás dele

a minha equipe

- universal

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tocou a campainha

e não tirou o dedo

- sua vi[n]da dependia disso

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CANDELABRORATÓRIO

e lustre cabeça

em que me faço

no apagão de ideias

tenho vel[h]as

vários maços

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deus busão

não te perdoo

tu não sabes

o que fazes

- meu atraso de vindas

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papel branco a ser violado

- quem garante teus direitos desumanos

de permanecer puro

à espera de tua idealma gêmea?

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EPITÁFIO QUALQUER

jaz aqui alguém

morrido de qualquer coisa

deixou sei lá o quê

para não sei quem

disse quaisquer últimas palavras

registradas em algum lugar

deixamos aqui

uns sentimentos aí

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O INDECISO

ser

(artista genial)

ou

(talvez)

não ser

(um eterno melancólico)?

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O SENSÍVEL

sinto muito.

essa mistura toda

me faz sentir demais.

o sentir daqui pra frente

sinto desde eras atrás

and ever mais

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O INSENSÍVEL

sinto muito.

sinto lhe informar que

não sinto nada.

um talvez quem sabe

sinta o sentido da não-sensação

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O SEM DONO

licor

depois vinho branco dizendo

vodka alho

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O JOGADOR

errarei erro e errei

sem nem saber o quê

só sei que não passei

pro próximo nível

e não há outra vida

nem game over

a vida veio do bigbug

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sol a pinus -

nos gravetos dos meus dedos

o sono se ex-preguiça

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DROGAS POLÍTICAS

decidiu de vez

parar de fumar aquele

(quase um câncer pro país)

entrou em tratamento

teve uma recaída

que eu queria que tu visse

elegeu outro pior

despencou até o pó

overdose de burrice

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só queria te dizer

um negoço meu irmão

no aécio voto never

meu voto é na dilmão

pro brasil ficar mais grande

ser um país mais fodão

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ZEN [VAGA]BU[N]DISMO

queria limpar a mente

não deu

tinha uma preguiça insana

no mantra do sono

foi sonhar com o nirvana

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pra ruimar

bastam meias

loucuras:

cada tosco

com suas toscuras

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[ch]ame-me agora

para parar na tua

meio [a] meio solto

na tua na[ve]

nossa coisa

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achei que era.

não era.

dizia no rótulo: arte.

insira a senha para abrir.

tentei usar. não consegui.

chamei o hackerítico.

burlamos o firewall da pedância.

achei que era.

não era mesmo.

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ESTRIBILHO

sem eira nem beira

o mundo vai

todo faceiro

(bis

bilho

teiro)

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tem um menino buchudo

brincando na lama

sem mãe nem pai

sem casa pra ir pra dentro

o menino compete

pra ver se ganha da chuva

(quem chora mais?)

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quando tudo trava

e o nada fica em mim

ex-traio qualquer coisa

finalmente sou fiel

ao eu mesmo até enfim

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não me fale de cadeiras

deixe as malditas em paz

já lhes basta as bundas moles

e seu protagonismo nos exemplos

deixe as cadeiras em paz

antes que elas sentem em nós

e nos engulam na preguiça

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sou uma cria estranha

de Augusto e Leminski

muito chá nenhum whisky

hipocondríacas pastas

arquivos perdidos na xanha

se coçando entre aspas

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estou em guerra

campanha contra o

meu que digo:

vê se te acerta

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sinto que sinto

que penso que prendo

dispenso o só no entanto

sinto que penso que prendo

dispenso o suspenso no cinto

e descanso

sinto que tento e pretendo

que mesmo mordendo a língua

eu canto

sinto que seja sussurro

ou alento o lamento

um choro e tanto

meu canto

---

era uma qualquer

história de amor

o buquê foi pro vaso

com o outro a propor:

deixa logo esse merda!

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MOTOBOY

aiô inox

monta nesse teu cavalo de aço

e vai laçar a vida

cuidado pra com o boi de ferro

que ele pode te pegar

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Lispector, Clarice:

imagina se a cada citação

um milagre existisse?

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não me peça pra fazer cimento

eu mal sei argamassar

meu muro de lamentações

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cada louco com suas loucuras

dizem os povos por aí

eu com minhas palavras poucas

em doses homeopáticas

mal me servem de cura

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PROF. & CIA

uma organização

para o futuro

crianças bem educadas

derrotarão o mal

de tudo de ruim

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abriu a sombrinha

quando choveram maldades

o vento da repressão o levou

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vi na rua um pardal

alegrar minha vida

com seus saltitos

depois seu lado pardo:

voltar pra um não-ninho

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entre a cruz e a espada

a palavra errou o alvo

jogou uma cura

mas cortou laços

de presentes futuros

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ia pros lados da bahia

vi einstein perguntando

o que a baiana tinha

passou rutherford (de clio)

e perguntou: vamos pro bach?

o resto do causo tem gaia

conto lá pro melodia

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a saudade é um boi teimoso

ruminando lembranças

muito bem passadas

garantido mas caprichoso

se cutucar pisoteia

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MALDIÇÃO PÓS-MODERNA

que a sua internet caia.

{[(e a bateria do seu celular acabe)

e não haja carregadores ou tomadas à sua volta]

acabe então a energia em seu bairro

e na tentativa de procurar outro ponto de acesso

que pife seu carro e não haja dinheiro para ônibus

que o cansaço e a preguiça então lhe tomem os membros

e o gps lhe leve para uma floresta densa

rumo ao pedido de desculpas que tu deves à natureza]}

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vou te te dar corda

até tu se enrolar e cair

será que um dia acorda?

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o poeta é um bicho mucho loco

é menino de recado do universo

(quase isso) e ainda acha pouco

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MALDIÇÃO ARTÍSTICA

que não produzas arte enquanto ar te existir

daqui ao ar teu extinguir-se

que sofras com as tormentas do bloqueio

até que te perdoe a arte da vida

que o machado da insônia te abra a cabeça

que as ideias ruins te furem as têmporas

e te espremam o cérebro

até que te perdoe a DeusArte

pela audácia de endeusar-te como ela

que é infinitamente superior a ti

que os fantasmas das obras inacabadas te atormentem

(mesmo após largados no cocitus do esquecimento)

e que as novas ideias te neguem ajuda

quando estiveres no fundo do poço

que permaneça na eterna dormência a tua sensibilidade

e apagados teus lampejos diversos

sejam ainda estuprados por más influências

todos os teus sentidos jogados na sarjeta

ao lado da falta completa de qualquer tipo de

cotidiano, obras posteriores ou contemporâneas

ou qualquer coisa que te sirva de inspiração

(que nem o nada nem a falta te inspirem)

ainda queres mais?

que (não) sofras desses males

enquanto fores artista

até que sejas menos que nada

menos que o pior dos teus trabalhos

---

O BUS(IN)ÓFILO

ah, fiéis do deus busão

a vida anda passando (a mão) em tu...

estás no ponto?

---

ETERNO DESAFIO

Meu nome é Tempo,

filho do Vento,

soprinho dos Deuses.

Quem és tu,

homem sem nome?

---

pastel de queijo

mais legal que

é pastel tri

e o quatro queijos

aquele homem na esquina

só uma fome de sempre

----

engavetei

aqueles processos

de protestos

já passados

o presente

é uma puta maluca

se dando pra mim

(enciclopédia doida

de folhas falhas)

eu sanso desbaratinado

feito paspalho

zanzo tanto...

meus pés pregaram no chão

mas no primeiro giro

cabeças rolaram

----

trocadilho infame:

há quem te odeie. e pior:

há quem te (m)ame.

---

selfie da puta

vai pro fundo

que te pariu!

prefiro meu filtro

Zen bloqueador

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câmbio tenso

bolsa chic

desvalores

a coroa duas caras

um dia terá troco

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pôr-do-sol

a noite chegou

ownando o farol

---

resolvi

vou me mandar um bilhete

me desapegar de mim

(será que um dia acerto

comigo mesmo?)

---

o mundo me gasta

preciso recarregar

desligado na tonada

---

BIZAHUMANUS

bolhas inseridas

em quadrados inser-

idos numa bola guardada

no guarda-cosmos

chaves sem fecho

perdidas em um carro

construído nos trancos e

barrancos e buracos e poças

e matos sem fim

uma estranha bala de diamante

que nunca quis sair da arma

com medo de furar um coração

----

BÔNUS:

UIVOS DE NANQUIM

Criei um monstro de tintas. Parecia um lobo solitário e rosnou para mim no primeiro esboço. Não era. Liderava uma matilha de rabiscos salivando para me devorar as ideias. Fugi. Fui dormir. Acordei no meio da noite com o barulho insuportável a se repetir indefinidamente. Eram ordens para bestas de papel me cercarem o sono. Eram intimações para seu deus lhes dar a vida completa. Eram uivos de Nanquim.

Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 01/11/2014
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