Sem título(79)

Soletro a palavra amor

A mais que gasta palavra amor

Aquela que magoa no vazio de significados

E cesso o discurso…

Lembro-me de ouros reis fadas druidas

Alquimistas Édenes e das coisas que me fazem dançar com o sol

Invento amor descubro amor escrevo teu nome

Ouso o poema

Assim faz-se grafite em diamante

Vem-me a sabedoria de quem se dá

No instante de câmbios eternos

De como sou mulher na sensibilidade da Mulher

E viril macho porque de afectos faço o meu amor

E sou oferecido dado entregue à mercê dos teus ensejos

Assim poderia ser…

Quero tudo

Tudo faço

Mas a fazer faria em superlativo gesto infinito

Em acto contínuo e sublime manifesto

No recato do leito ou no exuberante grito de acordar o mundo

Sem medo e sem vergonha

Sem abrigo que não seja a casa onde me ofereces amor

A casa o gesto o acto deificado

A inveja maior de Apolos e Afrodites

Nas cores dos céus e dos mares

Bebo a cor do teu olhar

Embriaguês monumental

Encontro

Descubro-te

Em cerejal venturoso recobro no teu colo

Os frutos como palavras sôfregas nas bocas escarlates

Pecado no pedaço de inocência

Querubins fiéis de nívea flor na boca

A palavra e a flor

Palavra a palavra

E todas as palavras são escassas

E todos os frutos são desejo

Desejos em nós são mais que estrelas

E nasce connosco o universo por haver

Ainda com todo o devir que nos espera

Ainda a dar-me em ti primacialmente

Na flor da tua boca em pérola caprichosa

Na rosa do teu sexo coração

No teu peito com alma no sexo

Em duas mãos dadas livres comprometidas

Em duas esmeraldas que me despem

A fazeres de um querer de desejo compaixão

Ofertando-me graciosamente a solidão

Sigo nu por ínvios caminhos

Qualquer rumo é rumo certo

Na certeza de não te macular

E deixo-te livre no lugar que teimas ser o teu

Agora sou não mais que cinza

Agora sou gota de água caída no centro do sol

Dionísio Dinis