Sad

Não há dor que não transpasse os dias que tenho vivido

e tenha tomado a retina de meus olhos.

Minhas mãos estendidas sobre esses corpos da vida,

secando feridas que não são minhas por não estarem em mim,

mas mesmo assim o são por estarem no meu irmão.

Os dias tragam essa luz que eu não vejo

que de melancolias vestida as ignoro todas,

e nem mesmo um pobre regozijo me salva delas,

e elas de mim se apossam.

Neste ponto já não sabemos,

se queremos ou podemos delas ficarmos distantes.

Nem todos os esforços, lentos ou imediatos,

nos trazem aquele arroubo decidido de longe delas morarmos,

porque está dentro de nós e nos habita,

como todas as percepções de mundo que temos.

Ora se vão na alegria de outros,

nossos olhares mudos, ressentidos de Deus sabe o quê.

Incompreensões, limitações humanas,

que aurora nenhuma faz fenecer.

É caso de pedir a Deus em intransigência uma coisa e depois outra

coisas de filha desobediente,

que ama e amando perdeu-se como toda gente.

Amar é como um filtro ao contrário,

não limpa mas turva a água de alucinações.

Perdoe-me que fui acometida por sombras afetivas

por náuseas amorosas para descobrir o que não era amor.

Inclusive o amor por mim mesma, inexistente...

porque quem ama a si mesmo nesse abraço carinhoso por si

não se abate quando faltam-lhe abraços de outros.

Minha teoria é que não me basto.

Eu sozinha não sou tudo coisa nenhuma,

e junto, muito complexo, vejo-me abandonada e chego a pensar

que não quero é nada.

Descubro adiante que quero , mas não sei o quê.

Quero a paciência de Deus para comigo

e a audiência de muitos anjos que por mim zelam.

Que a aurora não traga pesos que eu reconheça ou discorde,

e que eu possa sorrir mesmo sabendo-me triste.

Que sorrisos não tem nada a ver com nossas tristezas.

São filhos rebeldes que desobedecem a lei natural das tristezas.

Faíscas de brilhos internos perdidos,

fio de vida que eu perdi e não soube (ainda) recuperar.

Anaís
Enviado por Anaís em 27/05/2007
Código do texto: T503525