REFLEXOS NOTURNOS

No aniversário do meu travesseiro,

Meu corpo, ainda cansado do pesadelo,

Repousava na imensidão do quarto.

O quarto, velho amigo confidente,

Atelier de tantas alegorias virtuais,

Projetava, na parede, os reflexos noturnos.

Os sonhos, em parceria com a ilusão,

Esculpiam, em pedras brutas, jóias raras.

Quando entrava em alfa,

Os visitantes do além vinham constatar,

Se eu estava, de fato, comigo mesmo.

Por trás da antiga veneziana,

Se escondia o enigma das mil e uma noites.

Da vidraça da janela, longínquas estrelas

Transpunham-me para o infinito.

As noites de inverno esquentavam as esperanças,

As noites de verão esfriavam os desejos...

E, assim, o tempo avançava pela vida afora,

Indo se perder na imensidão do nada.

Os valores das coisas da vida

Ainda não valem o preço do meu coração

E viver em paz, os sinceros prazeres,

Vai se tornando o mais nobre privilégio.

No terceiro aniversário de meu travesseiro,

Olhei no espelho do meu quarto

E vi que não estava totalmente sozinho.

Então... Confortei o meu espírito

E adormeci.

DECK CARMONA

Academia Betinense de Letras
Enviado por Academia Betinense de Letras em 28/05/2007
Reeditado em 23/01/2008
Código do texto: T504163