NADA MAIS ( à m. M.)

Sentimos que um dia, mais concreto que a memória pode reter, estaremos num lugar do mundo - só ele existe -, cujo nome se perdeu, embora fique uma imagem, triste ou alegre, de acordo com as emoções que nos brilham num ângulo breve do olhar. Talvez alguém venha anónimo pelas ruas, a névoa se perca nos filtros da luz e da noite os candeeiros acesos lembrem outros lugares de alguma evidente solidão. As árvores das janelas vão esmorecer, a relva será apenas a leveza de passos ausentes. Porque a vida esgota-se mais depressa que a morte e sabemos tarde, sabemos quando o corpo é já frágil para suportar a dor ou o silêncio. O horizonte tornou-se numa observação vazia, a casa é agora um espaço indistinto onde qualquer voz soa apenas num fundo débil de sensações. Nada mais.