Amargo

Eu sou Amargo, e você?

Eu sou Palavra, joga-me

Ao vento e verá então uma

Chuva de letras e poças

De versos se formando por

Pingos fortes de rimas.

Eu sou Palavra, e você?

Eu sou Amargo e não creio

Na chuva que apenas cai.

Não agrado da graça que

Evapora da água e sobe ao

Céu e volta à Terra, e que

Por fim faz círculo infindo.

Sou frase curta, palavra sem

Sal, gosto amargo e egoísta

De palavra na cela salivar,

Nas barras de dentes, molares

Vazios, garganta sombria.

Eu sou Palavra e você é poeta,

É prosa, é verso e "et cetera".

Eu sou Amargo e você a musa

Muda e singela, muda de

Pé em pé-de-vento, de muitas

Roupas em bocas de muitos

E incansáveis sons, é meu ideal.

Meu desejo, sua frase.

Minha fila, suas letras.

Seu gosto, nosso poema.