IFIGÉNIA

Ifigénia, Ifigénia, a hora correndo entre anéis evanescentes ou simplesmente as velas dos navios à espera do destino inexorável. Nasceste sem saber do nome Áulis, apenas do mar. Profundo / mais profundo dentro do azul / o azul que fica visível nas pedras e nos corpos mergulhados em êxtase. Sei dessa cor assim desde os barcos no Egeu em 1976. Imaginei o mundo falando grego para sempre. E não aceitei despedir-me do mito sem deixar os olhos em Mégara. Por tudo, pelo amor das vagas como uma neblina sobre os areais varridos no temporal. A tua infância foi como um cristal. O vento entrava pelos pátios e as arestas de colunas de mármore prolongavam a sombra das tuas vestes cerzidas na eternidade. Bebo o vinho resinoso à tua memória em Dafni / já toldado pelo ébrio líquido que arde nas veias. Ifigénia, a morte exigida por Ártemis condenou-te no altar a uma ambiguidade feliz. Houve quem dissesse que derramaste o sangue sagrado por uma vitória, ou, ou ficaste na paisagem como dançarina nos múltiplos rostos de Hécate. Talvez nos cruzamentos semafóricos das avenidas de Atenas / sob um rumor de areias / a noite celebre em candelabros a tua passagem distinta entre a multidão. É a hora.