Répteis

Neste lugar que nos recebe de passagem,

onde tudo fala e transborda,

onde corpos não conhecem portas

que comportem o direito de passar,

não sei por que você tomou tal forma,

não sei quando você retorna

e não quero perguntar.

Como répteis que, afoitos, antecipam terremotos,

você vem e anuncia o piso instável.

Não julgo seus espelhos, nem divido os meus.

Não acuso as novidades, não culpo o que aconteceu.

Se o ar é reflexo, se vidro rachado,

se vê sua imagem e volta transformado,

esta terra consentiu, jamais eu.

Como aves que voam baixo e antecipam temporais,

você diz que de cima o alívio não vem mais.

Este lugar que nos toma entre peles, escamas, pelagens e penas,

roupagens estranhas e paisagens amenas,

sempre nos define, jamais nos sustenta.

Figuras várias para cada passagem,

águas em transe, ligeiras folhagens,

o caminho se alarga, entranha e inventa.

Com os meus ossos que não sentem nem se elevam,

lhe aguardo para dizer

que estou cansado.

RF

02/12/2014

13h31