ESTÁTICA

O que eu fiz de tudo que compunha minha existência?

Nada foi feito aos que aguardavam para ver meu fim,

mas eu estou impressa nas dobras que cobram minha liberdade.

Eu sei,

já fui bem mais que isso,

porém ninguém me viu chorar,

eis a questão que habita o cerne da cansativa sofreguidão dos instintos que pousam sem saber pra onde irão.

Vi,

ouvi,

calei.

Não quero ver mais.

E se eu puder pousar minha mão na cálida noite fria e distante,

terei cumprido meu papel de estar aqui.

Não quero ser além de um sopro que navega as várias faces do estado vazio de si mesmo.

Não quero ir além de um corpo que massacra a si mesmo,

mas quero ir sim,

onde esse corpo tenha a liberdade de sentir,

de ser um ser em si,

e não apenas um retrato mal pensado de idas e vindas incautas.

Acabados,

malfadados planos,

ânsias que povoam meu incontinenti coração.

Que me faz bater as asas e continuar estática na multidão de colecionadores de anjos.

Cabeça que pensa,

corpo que não pensa,

existe.

Sofreria bem menos se entendesse pra onde vai a multidão.

Mas não falam minha língua.

Acabo-me e nada entendo.

Não sorrio,

esse sorriso sairia dos meus lábios,

não do meu coração.

Prefiro passar sem ser vista do que passar e não deixar marcas.