AMULETOS DA SAUDADE

Quando me pega a saudade

Eu não procuro o telefone,

Não recorro às fotos,

Não visito endereços.

Quando me pega a saudade

Simplesmente escrevo

Paro no corredor do meu tráfego

Congestionando o pensamento.

Depois sinto que não sou mais o mesmo

Minhas veias cortam caminho

Saio levitando.

Já não sei se vivo

Ou se estou com uma folha agarrada nos dentes.

Quando me pega a saudade

Eu não acendo a luz,

Não falo de momentos,

Não lembro de rostos.

Quando me pega a saudade

Presto atenção no silêncio

E copio meus segredos ao longe

No naufrágio das águas do tempo.

Depois desapareço em mim

Minhas mãos acariciam o tecido do vento

Por baixo de suas vestes e nuvens,

Para assombrar a noite

E deixar rastros do meu galope nas montanhas.

Quando me pega a saudade

Eu não remexo gavetas,

Não ouço música,

Não releio cartas.

Quando me pega a saudade

Penetro em minha respiração

Orbito no espaço das emoções

Caio devagar sobre um campo de palavras.

Depois não perguntem por mim

Não me procurem em casa,

Esperem minha volta acampados em frente a uma fogueira,

Ou sonhando com a chuva arrastando um pouco de terra,

Que eu já chego com um poema novo.

Ricardo Mezavila -

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 09/12/2014
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