Roubo

Veio de mansinho

tal qual brisa noturna

primeiramente leve, serena, doce.

Instalou-se tão devagar...

Ninguém percebeu.

Foi aos pouquinhos criando uma rede,

enraizando-se...como erva daninha.

Tomando posse de cada sentimento,

desejo, sonho, aspiração.

Num abraço simbiótico, já parte de cada ser,

não mais viveriam um sem o outro.

Agora podia tirar seu disfarce, mostrar-se por inteiro:

ah!... ladra das ladras! Tinha muitos nomes: inveja, ganância,

raiva, sedução, preguiça...vaidade. A cada um adaptava-se como melhor poderia infiltrar-se no coração humano. Era recebida como igual, afinal...aquele que nunca pecou que a repelisse.

Seu objetivo era tão somente roubar almas.

Almas sedentas, enganadas pela falsidade de intenções, como sempre aliás, pois os mais terríveis crimes tiveram sua origem na "mais pura das intenções".

Assim foram roubados, um a um, cada alma, cada ser... do que lhes definia como humanos. Perdeu-se a dignidade, a honradez, a compaixão, a sensatez, o coração, a divindade.

Formaram-se exércitos de zumbis sem piedade, sem razão, sem alma.

E os que lhes faziam frente, ainda lutando pela humanidade, choravam como choravam os deuses e os anjos...pelo homem caído, perdido e algoz de si dos outros, seus irmãos.

Não havia resgate, nem redenção.

Fora roubado o sentido que fazia do homem um deus em ascensão.

Se ainda há quem lembra, se ainda vive quem se importa, se ainda respira quem pode fazer a diferença: erga-se, grite, lute...sonhe, semeie esperança, ame.

Enquanto restar um suspiro, haverá um futuro que traga luz, paz...amor.