Pedro Pedreiro

Pedro pedreiro, trabalhador e ordeiro, tinha cinco filhos e um neto sem pai para criar. Acordava as seis e nas filas uma vaga ia procurar, queria trabalho, sem com o cargo se importar, pois tinha uma família que amava e só os queria alimentar, mas já se faziam meses e nada conseguia arrumar, o pendura na venda já não tinha dinheiro para pagar, e o vendeiro que era apenas um pequeno botequeiro não tinha mais como aguardar, pois também tinha obrigações para quitar. Pedro pedreiro desempregado e sofrendo, uma noite com uns trocados, umas cachaça tomou, e no boteco sobre futebol, mulher e política muito falou e ao chegar na embriaguês, esqueceu de sua realidade e sem muita dificuldade conseguiu esquecer também sua dor, esquecer das desigualdades que ele como pobre era obrigado a viver. Mas a ilusão no outro dia acabou, e ainda mais pobre pela falta que aqueles trocados lhe fazia, viu seus filhos por leite chorar, e sua mulher Maria, reclamando que na cozinha não tinha nada para cozinhar, e o dono do barraco de dois cômodos, onde com seus filhos se apertava, queria os aluguéis que a muito não recebia, e ainda exclamou “não tem dinheiro pro aluguel, mas pra cachaça arranjou”. Mal sabendo ele que aquela cachaça, era como anestesia, que por algumas horas aliviou a dor e a vergonha que Pedro sentia. Pedro pedreiro, homem forte e trabalhador, não tinha medo da enxada e pra levantar parede era doutor, com dor de cabeça pela noite que passou, Pedro pedreiro saiu logo cedo e em outras filas a mesma resposta escutou, “não hà vagas não senhor”. Em seus pensamentos ouvia os lamentos de seus filhos por um pedaço de pão chorar, e apesar da vergonha, ao passar por um carro chique, desses caro de doer, resolveu ao burguês uma ajuda pedir, não sabendo ele que sua vida mudaria ali. Quando do carro se aproximou, lá dentro havia um doutor, privilegiado pela vida, mas da vida nenhuma lição tirou, ao ver aquele homem rude de roupas sujas, não se atentou que as manchas eram de tinta e massa da construção, que era apenas um ser humano, apenas um pobre cidadão. Assustado com a violência que existe, pois na rua não estamos salvos, somos animais, e às vezes como tais matamos nosso próximo para sobreviver. Pedro pedreiro, se aproximou e tentou lhe explicar que em sua casa seus filhos de fome padeciam e tudo que queria era uma ajuda e qualquer tanto servia, mas o doutor que nas melhores faculdades se formou, olhou para Pedro com nojo e ao invés de ajudar muito lhe humilhou, “ora seu vagabundo faça me um favor! São tipos como você que envergonham nosso país, com tanto trabalho, preferem pedir ou roubar, mas de mim nem de uma forma, nem outra, nada você vai levar”. Aquilo doeu no peito de Pedro pedreiro como um punhal, rasgando-lhe as vísceras e seu rosto se queimou pela vergonha ou por ódio, não era ladrão, e só havia pedido, porque não teve outra opção, antes se humilhar que ver seus filhos de fome chorar, e aquele homem de branco com tantos anéis na mão, jamais Pedro pedreiro imaginou que um doutor, não entenderia sua situação, e não lhe faria falta a ajuda para um quilo de feijão. Mas aquele pedido de ajuda, acabou numa séria discussão, pois Pedro pedreiro não era vagabundo e nem ladrão, podia não levar comida, mais pra casa também não levaria tanta humilhação. E na central de polícia um rádio chegou, na avenida central estavam assaltando um doutor, e ao contrário de quando assaltam uma casa no subúrbio e o dono é um simples cidadão honesto e trabalhador, em menos de cinco minutos a policia chegou, e as armas para Pedro pedreiro apontou, ele ainda tentou falar, mas a polícia ao ver suas roupas sujas, não lhe deu espaço para explicar, algemado e ameaçado, foi jogado no camburão. E o doutor ainda fez uma reclamação: “vocês tem que limpar as ruas dessa corja de ladrões, que ameaçam gente honesta, e envergonham nossa nação”. Na cadeia sem dinheiro para um advogado, Pedro pedreiro foi jogado, e até hoje depois de alguns meses esquecido, aguarda um veredicto. Sua família do barraco por falta de pagamento foi expulsa e hoje busca as pontes, para da chuva e do frio se abrigar. E na cadeia na noite fria, Pedro pedreiro tenta com um jornal se esquentar, e nesse mesmo jornal, uma manchete vem destacar: “Doutor fulano de tal, foge do Brasil, depois de mais de trinta milhões da previdência roubar”, e uma foto mostra o homem que além de ladrão, foi quem acabou com a vida de Pedro, ex. pedreiro, que agora não é mais cidadão, nem trabalhador, é apenas um processo como muitos, esperando a paciência de um outro Doutor.

Poema Orlando Jr.

orlando junior
Enviado por orlando junior em 30/05/2007
Código do texto: T506961
Classificação de conteúdo: seguro