Cântico de Arrependimento

[Poesia encontrada, perdida e achada num sanitário de um sanatório muito particular]

Já não posso suportar o peso da decisão, do sufrágio

Não tenho descanso em meu espírito por tua carne

Ainda sinto, fresca e suave

A fragrância que emanava de teu corpo

A tua respiração frágil

Quebrada pela força de minhas mãos em teu pescoço

O meu terno salpicado com teu sangue

Rijo, o meu corpo sobre o teu

Indeciso sobre o próximo ato

Guardo a minha inocência em teu segredo

No amor que não me destes a provar

Vejo as provas, analiso os fatos

Toda a pureza se entorpeceu

Com o delírio insano de meus passos

Saibas ainda, ó minha amada

Que às noites ponho a flagelar-me

A lembrar dos teus olhos frios

Do teu peito pálido

Da inanição que não era tua

Ao contemplar tua figura nua

Desfigurada pelo meu machado

Jamais amarei a outrem

Jamais me deixarei cegar pela formosura

Pois contemplei de forma crua

A dor da beleza mutilada

O remorso do cadáver do meu bem

A navalha do desgosto que me fura

E me leva a uma última facada

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 19/12/2014
Código do texto: T5074323
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