Decreto-lei

Recordo-me, apático, as transas agnósticas entre seu e inferno.

A psicodelia, o sangue, as roupas sujas e o desleixo.

Malditos sejam os homens de bem!

Seus dizeres prontos, sua fala macia.

Diplomacia, em vosso tempo, seja feita de massa pura e truculência.

De nada adianta prostra-se ante aos enormes carnavais.

As ruas se pintam, anos e anos, sobre o outro lado da meia-noite.

E a sorte dos desencontrados é, justamente, o malicioso escárnio que lhes entremeia os dentes amarelados.

Morte lenta aos torturadores de estrelas!

Vida longa e próspera aos artistas de sonhos, os mendigos maltrapilhos e os bêbados.

Tropegar é dançar sem música.

E como eu, folião exasperado da quarta-feira, absorto em letras e livros, vejo tudo esvair-se na rigidez polida de mármore dos cemitérios.

Os reflexos dos acontecimentos são sempre escritos em notas de jornal, colunas e fontes sérias.

Não deveria haver quem leia a vida sem ao mesmo ter tido a graça de compô-la, ao menos uma vez.

E quem não a componha, faça o favor de não carregar-se de censura.

Se, como em toda juventude, o óbvio é o não dito, não queiram acertar as contas dos devedores descabelados.

Importem seus derivados para outras autoridades.

Aqui, na República do Faz-Me-Rir, nós cantamos o desaconchego.

E dormimos sem nada nos olhos.

A não ser os cílios postiços e a paixão, nem tão postiça assim.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 22/12/2014
Código do texto: T5077857
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