Decreto-lei
Recordo-me, apático, as transas agnósticas entre seu e inferno.
A psicodelia, o sangue, as roupas sujas e o desleixo.
Malditos sejam os homens de bem!
Seus dizeres prontos, sua fala macia.
Diplomacia, em vosso tempo, seja feita de massa pura e truculência.
De nada adianta prostra-se ante aos enormes carnavais.
As ruas se pintam, anos e anos, sobre o outro lado da meia-noite.
E a sorte dos desencontrados é, justamente, o malicioso escárnio que lhes entremeia os dentes amarelados.
Morte lenta aos torturadores de estrelas!
Vida longa e próspera aos artistas de sonhos, os mendigos maltrapilhos e os bêbados.
Tropegar é dançar sem música.
E como eu, folião exasperado da quarta-feira, absorto em letras e livros, vejo tudo esvair-se na rigidez polida de mármore dos cemitérios.
Os reflexos dos acontecimentos são sempre escritos em notas de jornal, colunas e fontes sérias.
Não deveria haver quem leia a vida sem ao mesmo ter tido a graça de compô-la, ao menos uma vez.
E quem não a componha, faça o favor de não carregar-se de censura.
Se, como em toda juventude, o óbvio é o não dito, não queiram acertar as contas dos devedores descabelados.
Importem seus derivados para outras autoridades.
Aqui, na República do Faz-Me-Rir, nós cantamos o desaconchego.
E dormimos sem nada nos olhos.
A não ser os cílios postiços e a paixão, nem tão postiça assim.