Juro que não escrevi esta poesia que era pra ser sobre o meu silêncio

Ó cérebro, ó cérebro!

Esconde-se nas tuas rugas a minha tagarelice

Esconde-se tão profundamente

Que não mais deverá sair

Nunca mais, nunca mais novamente.

Ó cérebro, teus olhos são os meus

Tu vistes, tu vistes!

E tu falas pelos cotovelos que não tens, pois são meus

Tu sentistes o que vistes

E enviastes o sangue mensageiro agitar meu coração

E tu me fizestes tolo, me enganastes

Agora nenhuma palavra sairá

Nem uma única palavra maldita

Nem um som, um sopro qualquer

Sairá

Agora verei, sentirei e deixarei o coração espernear

Com as pernas que não tem, pois são minhas

Deixarei sofrer, deixarei explodir

Deixarei bater tão forte a ponto de ser ouvido por marcianos que vivem em algum outro Marte de alguma outra galáxia

E virão à Terra (desta galáxia desta vez)

Para averiguar quem manda sinais de angústia tão profunda pelo Universo afora

Chegarão aqui dois mil trezentos e quarenta e dois anos depois e ainda estarão pasmos com os gemidos silentes do meu coração

Mas as palavras... nenhuma sairá

As palavras, ó cérebro

Ficarão encerradas em tuas rugas mesquinhas

E quando minha boca desorganizada se abrir será para suspirar

Mas suspirar em silêncio, escondido

Sem ninguém ver

Mas olha... sem ninguém mesmo ver

Ninguém...

Nem se atreva a fazer alguém me ouvir

Não se atreva a escrever isto enquanto estou dormindo

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 05/01/2015
Reeditado em 25/01/2015
Código do texto: T5091235
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