Gaveta da Sorte
Não fadigue as pálpebras
lendo aquilo que escrevo.
Não salive nos meus versos
Porque eles têm gosto amargo.
Tente não sorrir por aquilo
Que de mim entender e
Por favor não chore pelo
Poema que agora queimo.
Apenas assente-se neste chão,
Contemple o fogo, mas não
Olhe para a fogueira, aqueça
As mãos, e não faça nada mais.
Esta folha que se queima,
Está lágrima que não derramo
É pelo verso que não veio,
Pela sombra que não se vai.
Cada letra que se contorce
Na agonia incandescente das
Paixões e na dor incurável
Dos amores perdidos, não
Merecem romper a virgindade
E a limpidez das folhas que
Serão engavetadas na sorte.
Veja as cinzas antes brancas,
Veja a palavra batizada no
Fogo que só faz recomeçar.
Aqueça os olhos sem salivar,
Tire a lágrima da língua,
Feche as mãos, tira-me do fogo,
Busque mais lenha que
Eu ficarei aqui, fazendo
Outros poemas.