Hiatus III

Tenho as mãos de fogo para queimar tudo que amo

Toco tuas folhas e elas fumegam

Memórias fumacentas de dias verdes

Tenho as mãos de fogo para queimar de volta a mim mesmo

Toco minhas pálpebras e elas ardem

Espectadoras vermelhas de tantos dias

Tantos dias que lembro me fogem esvaindo-se no fumo ascendente

Tenho as mãos de fogo

Tenho os olhos de mármore

Tenho a boca que morde minha língua e degusta o sangue

Tenho sede, tenho vontade de urinar

Tenho que aprender a deixar

Levantar e ver face a face cada um dos meus medos

Tenho as mãos de fogo, tenho medo de amar

Porque tenho as mãos quentes de tanto machucar

E tenho a dor verde de nunca parar de queimar

Tenho as mãos de fogo, não te posso tocar

Escrevo palavras de fogo em tua roupa

Por pouco não atinge teu peito

Que tu escondes com medo das minhas mãos

Tenho a palavra fogo em todo lugar

Tenho um hiato que não é hiato porque nunca foi

Não é um período intermediário, é o fim

Tenho que acabar a dor das chamas em meus dedos

Mas eu não te posso tocar assim

Nunca te posso tocar

Porque sobe o cheiro da minha mão queimada

E esse cheiro dói em mim

Mais que a própria dor em si

Tenho as mãos de fogo para queimar tudo que amo

Vejo marcas de queimaduras

Por todo o teu pescoço desnudo

Minha tormenta é não mais tocar tudo que amo

Aprender a desamar

Tudo que amo

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 13/01/2015
Código do texto: T5099955
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