Silêncios

O copo vazio flutua despedidas num canto da sala - e eu? Quando foi que dominei a arte de sofrer em silêncio, eu não sei. Não lembro. Silenciei. Calei o tempo, parei o vento, tentei dar rumo ao lamento e no entanto, enquanto desoriento, somente esqueço, deito. Adormeço infinitos de bronze, na tarde perdida. Leito de mármore, céu estrelado, treme e teme: o que será, quando eu não for? Espaço, trajetória, rotina, cortina fechada, um eco, o tudo, que sequer existiu, e terminou. O princípio ecoa melodias, é fim da linha é fim do dia, a lua é melancólica e é tão tênue o resto e o rastro sempre tão gasto e oposto, mas aposto que antes que tal o fosse, alguém - ou algo - assim determinou. Silenciar o sim, porque o amanhã também já partiu, num trem de poeira de sonhos, esvaziando horizontes. Trajetória.