Necrochorume

não sou poeta

afundado no desespero mundano

perfurado por peixes carnívoros

piranhas que escolheram os intestinos

como selva dos prazeres celestiais

devoram tudo até o umbigo

não sou poeta

o gás sulfídrico escapa pela boca

enquanto transitam pelo esôfago

vermes ornamentais celebrando em paz

a colheita profana no banquete mórbido

sangue coagulado com goiabada

não sou poeta

carrego pelo mundo aristotélico

este pedaço de carne zumbi

com gosto fétido de silêncio e náusea

líquidos psicodélicos/mingau cor de argila

turista numa viagem paradisíaca

não sou poeta

filho de um dedodeus invisível

caminho na porrada num corredor polonês

torturado/estripado/esquartejado

cabeça espetada numa cerca

perna direita entregue a um cão

não sou poeta

durmo mas não descanso,deito e apenas sonho

saponificado no divino maravilhoso

frio/rígido/calado/refrigerado

defunto enfeitado com flores e folhas

vestido com um terno cinzento da Colombo

carlos assis
Enviado por carlos assis em 21/01/2015
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