Necrochorume
não sou poeta
afundado no desespero mundano
perfurado por peixes carnívoros
piranhas que escolheram os intestinos
como selva dos prazeres celestiais
devoram tudo até o umbigo
não sou poeta
o gás sulfídrico escapa pela boca
enquanto transitam pelo esôfago
vermes ornamentais celebrando em paz
a colheita profana no banquete mórbido
sangue coagulado com goiabada
não sou poeta
carrego pelo mundo aristotélico
este pedaço de carne zumbi
com gosto fétido de silêncio e náusea
líquidos psicodélicos/mingau cor de argila
turista numa viagem paradisíaca
não sou poeta
filho de um dedodeus invisível
caminho na porrada num corredor polonês
torturado/estripado/esquartejado
cabeça espetada numa cerca
perna direita entregue a um cão
não sou poeta
durmo mas não descanso,deito e apenas sonho
saponificado no divino maravilhoso
frio/rígido/calado/refrigerado
defunto enfeitado com flores e folhas
vestido com um terno cinzento da Colombo