A LARANJEIRA

Tu estavas ali,

perto da laranjeira.

(Porque havia

uma laranjeira ao lado

da casa.)

Estavas ali, as mãos

iluminadas.

A luz vinha dos frutos

ardendo na sombra.

A laranjeira

ainda lá se encontra.

E tu? Ainda aí estás?

Ao longe erguia-se a poeira

quando o rebanho

ao fim da tarde

passava – era verão.

Só no verão

a poeira se levanta assim

sem haver vento.

No tanque, um fio débil

de água

servia para nos sentarmos

à beira do seu rumor.

Eu era pequeno

e tu uma mulher triste.

Essa tristeza é ainda

minha.

Mas só ela.

E a laranjeira.

Eugénio de Andrade