Entardecer faminto de madrugada

Madrugada coração mente

Uma fome, me diz uma fome

Come-me pelas beiradas, agarra-se aos meus ossos

Como, mas não é a fome do que comer

Dou as mãos à minha menina

Que brinca com minha fome sem saber o que é a fome

Sem saber que a fome existe

Mas não é a fome do meu amor

Escondo-me em filosofias de existir, ser e não-ser

Em ciências de usar, replicar e teorizar

Em métodos de limpar as minhas mãos

Mas não é a fome de preencher o abstrato

Bebo, brinco, burlo regras

Saio, sumo, sigo retas

Mas não é a fome do que não sei

É um buraco negro em mim

É uma necessidade sem direção, sem nascimento

Que dói-me e anima-me

Esquiva-se no prazer do sexo

Ri-se de tudo em mim

É uma fome grande demais

Tão grande que se eu me esforçar um pouco

A vejo como um arrebol de penumbras tristes e cores vivas mortas

Esgueirando-se pelas mochilas nas paradas de ônibus

E caindo pelos vãos das casas de paredes mofadas

Um arrebol morno de uma tarde anátema

E uma dor nonsense de ver o arrebol

Dói-me sentir a última hora da tarde

Não sei porquê; não tenho traumas neste tempo

Dói-me ver as nuvens claras escuras

Pra que existe essa dor de fim de tarde?

Pra que existe minha fome buraco negro?

Madrugada mente

Amanhã já não mais

Agora madrugada

E minha mente sol

Triste, no escuro

A pensar no arrebol

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 23/01/2015
Código do texto: T5111231
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