Não esperamos mais os bárbaros

Não esperamos mais os bárbaros.

Baixamos as defesas, não há mais orgulho que nos vele.

Barbárie nos entorna, fluidos, no passar dos olhos.

E choramos pelo que não conseguimos ser.

Seremos nós de novo, outra vez, assim que se tiver concluído o grande feito.

Sendo grande pelo fardo, pelo tempo e pela violência com que nos espanta.

Não me tenha por medo ou inconstância.

E nem escreva poesia para os interstícios, apenas os respeite.

O vácuo é venerável, impávido, sem dúvida.

Mas a matéria, mesmo que óbvia, é sempre confortável.

Sejamos muito sinceros: não existimos na total ausência de tudo. Apenas subalimentamos futuros imediatos.

Eu abdico da poesia.

Eu abdico da beleza de inquietação.

Se há realidade, não mítica é a falta de interesse pelo outro lado dos sentidos.

Eu desisto dos outros lados.

A única condição de toda a renúncia é não ter de escolher.

Pelo fim das escolhas, nos escolhemos.

Deixamos de esperar pelos bárbaros.

Agora, apenas nós temos a permissão de nos destruirmos.

Que amar seja, por consequência, nos destruir daqui para frente.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 24/01/2015
Reeditado em 02/06/2018
Código do texto: T5112250
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.