Não esperamos mais os bárbaros
Não esperamos mais os bárbaros.
Baixamos as defesas, não há mais orgulho que nos vele.
Barbárie nos entorna, fluidos, no passar dos olhos.
E choramos pelo que não conseguimos ser.
Seremos nós de novo, outra vez, assim que se tiver concluído o grande feito.
Sendo grande pelo fardo, pelo tempo e pela violência com que nos espanta.
Não me tenha por medo ou inconstância.
E nem escreva poesia para os interstícios, apenas os respeite.
O vácuo é venerável, impávido, sem dúvida.
Mas a matéria, mesmo que óbvia, é sempre confortável.
Sejamos muito sinceros: não existimos na total ausência de tudo. Apenas subalimentamos futuros imediatos.
Eu abdico da poesia.
Eu abdico da beleza de inquietação.
Se há realidade, não mítica é a falta de interesse pelo outro lado dos sentidos.
Eu desisto dos outros lados.
A única condição de toda a renúncia é não ter de escolher.
Pelo fim das escolhas, nos escolhemos.
Deixamos de esperar pelos bárbaros.
Agora, apenas nós temos a permissão de nos destruirmos.
Que amar seja, por consequência, nos destruir daqui para frente.