Sobre que argamassa

Feito se foi?

Que gene se tem?

Que matéria se é?

Que produto se vem?

Juntou-se bastante

Adobe e lixo;

Formou-se um monturo

De coisas e hábitos

Surgido do escuro...

De um bastão a tremer

Numa fenda escura

Molhada, quentinha

Vermelho e negra ambos

Que gemem retorcem

Num gozo infernal

Explode, arrebenta

Num grito profundo

E nasce uma voz

Que vem doutro mundo

Na procura solene

Da eterna pergunta

O que sou?

Para que stou?

Quem sou?

Donde... pra que vim;

Pr’onde vou?

E percorre no tempo

Feito luzidio relâmpago

Em tenebrosa noite de chuva.

Com o infido vento que vem

Qual tal o vento que vai

Ninguém sabe donde

Ninguém sabe se está

Ninguém sabe até quando

Feito as trevas negérrimas

Do Universo medonho

E a pergunta persiste

Sem quem responder

Se faça assim sem saber

Da resposta que é certa

Que a vida é um túmulo

Depois de viver

Um buraco no chão

Pra argamassa que somos

Na fornalha a ferver

E as cinzas da vida

E a vida das cinzas

É este o caminho

Nada a reter-se em nós

Sempre acontece

Todos sabemos

Todos os dias

Ninguém se preocupa

O pó não vencemos...

Viemos de indelével pó

Pó; pó eterno seremos!