Um passeio sobre as folhas caídas do tempo

Há, em mim, um aposento secreto

Que não sei ao certo

Se é um jardim ou uma biblioteca

Ou uma floresta ou da estrada o fim

Erguem-se folhas majestosas

Da mais pura alvura

Com a letra mais pura

Escrita nos caules

Sob as copas frondosas

Descanso meu fardo, que de tão pesado

Curvou-me as costas

Alivio minha saudade de tudo

No cheiro terroso de peroba

No cheiro da poeira das tuas prateleiras

No escuro das gameleiras

Do meu quarto secreto

Ouço os ruídos do tempo passado

Silvando por entre as rachaduras

Das paredes e do teto

Dedilhando minhas amarguras

No encanto do meu passado

No meu pecado secreto

Há, ali, organizados

Os amores irrealizados

E os irrealizáveis e os abandonados

Todos pendurados

Nos cabides do meu passado

E me recordo, abismado

O fogo no peito, o frio no passado

Que tu andavas sem preocupação

Os pés descalços

Sobre o chão de minhas memórias

E pisavas nas minhas raízes

E dançavas nos meus anseios

E caías, leve e implacável,

Nas folhas secas de minhas histórias

No alto, voando

Passam os vultos incertos

De todos aqueles que vieram e não viram

O meu jardim secreto

E caminharam na estrada depois do fim

E remexeram nos livros empoeirados

Do Mago do Tempo

E pisaram nas flores natimortas

Esgueirando-se por entre as árvores em mim

E tudo isto fizeram

Sem que pudessem ver

Que alegria destas folhas em branco!

Que sensação sublime de ter a certeza

De poder rever para sempre minha poeira querida

Sobre os galhos retorcidos

E os meus sonhos de triste beleza

Tudo tão meu, tão minha vida

E tu caminhavas nas minhas lembranças

E eu caminhava contigo

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 01/02/2015
Reeditado em 01/02/2015
Código do texto: T5121828
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