EXCELSIOR

Ao eminente professor Dr. Antonio

Pacifico Pereira, glória da medicina

brasileira, nosso paraninfo, e aos que-

ridos colegas de formatura médica

(1895-1920)

I

Quando se é moço, e, ardente o coração clangora

A marcha triunfal dos glóbulos vermelhos,

Nossa alma, ébria de luz, revoa azul em fora,

Água real, levando um mundo nos artelhos!...

Mas, dessa marcha em breve o compasso fraqueia

E o arrojo da águia, em vão, desafia a tormenta:

É tampo de descer - o oxigênio rareia,

É tempo de parar - o céu nos desalenta.

Quantos sonhos de amor! quantos sonhos de glória

Desfeito no ar, uma bolha de sabão,

Neste quarto de século... e o pobre coração

A querer repetir a marcha da vitória

E a alma a querer de novo abrir assas no azul,

Quando, a curvar a nossa fronte merencória,

II

Que importa, amigos nem? Se o epílogo vem perto?

Não resta do Dever cumprido a paz divina,

Como o clarão luar que abençoa o deserto

E a carícia da flor que consola a ruina?!...

Se da Vida ao galgar a cordilheira fria,

A velhice nos tolhe os vacilantes passos,

Enviada por Deus, surge a Sabedoria

Que nos abre piedosa os seus benditos braços.

Que importa, amigos meus?... E quando neste mundo

Depuzermos, enfim, serenos, nossa Cruz,

Antes de entrar do Além no insondável retiro,

Sejam - lição final, grande exemplo fecundo! -

Nosso gesto de adeus - um arranco pra luz

Um hino triunfal - nosso último suspiro!...

14 de dezembro de 1920.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 12/02/2015
Reeditado em 12/02/2015
Código do texto: T5135176
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