POEMA DE CARNAVAL EM TRÊS ATOS
ATO I
A mulata acanhada,
Vestida de uniforme barato
De toca prendendo o cabelo,
Fazia atarefada
As lidas da casa
Num só atropelo.
O olhar preso ao relógio
Enxugava, varria, espanava
Pensando na alegria
Que a esperava
Na avenida enfeitada.
Tarefa feita.
Sexta-feira.
Tchau, patroa!
ATO II
Chegou na avenida:
A mulata acanhada
Era agora uma rainha.
O cabelo, antes preso,
Descia-lhe pelos ombros
Desnudos, brilhantes de suor
Convite para o amor de Carnaval
Eterno por três dias de folia.
Rodopiava, sorria, acenava
No ritmo frenético do samba
Sacudindo as pedrarias,
Extasiada, sorvendo os aplausos
Como glória eterna de três dias.
O desfile caminhava pela avenida
E a mulata, dançava, dançava
E dançava...
Como a pensar
Que só isso era a vida!
ATO III
Findou-se o desfile.
A multidão avançou avenida adentro.
A mulata perdeu-se na profusão de corpos
Que se sacudiam ao som das cuícas e dos tamborins.
Ninguém mais a notava
Onde está a rainha exuberante?
A deusa de ébano que há pouco deslizava
Majestosa por entre os passistas?
A eternidade dos três dias acabara.
Assim como o beijo roubado
O carinho, o afago
A jura de amor.
A eternidade recolheu-se.
A triste realidade apresentou-se.
Boa dia, patroa!