POEMA DE CARNAVAL EM TRÊS ATOS

ATO I

A mulata acanhada,

Vestida de uniforme barato

De toca prendendo o cabelo,

Fazia atarefada

As lidas da casa

Num só atropelo.

O olhar preso ao relógio

Enxugava, varria, espanava

Pensando na alegria

Que a esperava

Na avenida enfeitada.

Tarefa feita.

Sexta-feira.

Tchau, patroa!

ATO II

Chegou na avenida:

A mulata acanhada

Era agora uma rainha.

O cabelo, antes preso,

Descia-lhe pelos ombros

Desnudos, brilhantes de suor

Convite para o amor de Carnaval

Eterno por três dias de folia.

Rodopiava, sorria, acenava

No ritmo frenético do samba

Sacudindo as pedrarias,

Extasiada, sorvendo os aplausos

Como glória eterna de três dias.

O desfile caminhava pela avenida

E a mulata, dançava, dançava

E dançava...

Como a pensar

Que só isso era a vida!

ATO III

Findou-se o desfile.

A multidão avançou avenida adentro.

A mulata perdeu-se na profusão de corpos

Que se sacudiam ao som das cuícas e dos tamborins.

Ninguém mais a notava

Onde está a rainha exuberante?

A deusa de ébano que há pouco deslizava

Majestosa por entre os passistas?

A eternidade dos três dias acabara.

Assim como o beijo roubado

O carinho, o afago

A jura de amor.

A eternidade recolheu-se.

A triste realidade apresentou-se.

Boa dia, patroa!

Anna del Pueblo
Enviado por Anna del Pueblo em 13/02/2015
Reeditado em 13/02/2015
Código do texto: T5135890
Classificação de conteúdo: seguro