IZEÍl

(PARÁFRASE DE UM DRAMA LÍRICO)

Qual outra Morta idolatrada,

Vesti de luto a Juventude!

-Oh! Morta pálida, fechada

No fundo atroz dum ataúde! -

Eu fiz um túmulo sem porta,

Murei com lágrimas o umbral,

-Oh! Morta pálida! Oh! Morta! -

E pus-lhe em cima o colossal

Peso cruel do meu Tormento,

Todo o seu peso formidável,

Para selar o monumento,

Como uma campa inabalável!

Mas apesar de imóveis, frouxas,

Da Morta as pálpebras caidas,

Aquelas pálpebras tão roxas,

Desde as supremas despedidas;

No peito, em cruz, as mãos piedosas,

Gelado o corpo, o lábio mole,

Oh! eis que a Morta, dentre as rosas

Sob a mortalha os olhos bole!

E eis que se ergue, aureolada,

Ressuscitando, lento lento,

A Morta pálida, adorada

Da cova exul do Esquecimento!

Partiu-se a tampa do ataúde!...

Oh! o meu, Sonho que eu matei,

Bela e saudosa Juventude...

Oh! como mal vos enterrei!

1894.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 14/02/2015
Reeditado em 14/02/2015
Código do texto: T5136912
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