NOTURNO EM LA MENOR
Do azul glauco que afunda
O plenilúnio alvar,
Cai, pulveriza a prata os vagalhões do mar...
Debaixo d'água funda,
Mas, longe espiralando,
Queixas, lamentos, eis, sobem, correm à flor
Vão,
Como duos de amor,
Na bemolização
Eólica de uma harpa, a chorar, a chorar,
Em fora pelo ar,
Ao luar...
Se a órbita do céu
Fosfórica se irrita
Com a vesga atração de em olho que nos fita
Turvo através de um véu,
Sem pálpebras, assombra
A pupila da lua,
A hipnotizar,
Fixa o dorso do mar como um fauno, na sombra,
Armando o bote, fixa uma bacate nua
Ao luar.
Nostálgico, adormece
No alto mar o clarão
Anodino da lua, enche-se o coração
Dentro do peito, cresce,
Bate como a onda ao luar, estua, o verso espuma
Do lábio a borbulhar,
E de asa aberta a voar, a voar de bruma em bruma,
Paira, desliza vaga,
A cismar,
De vaga em vaga,
Ao luar.
Nesta hora a alma delira
E devaneia, e à larga
Quer... mas amarra-a o corpo, essa pesada carga...
Então ela suspira
Pelo além, pelo céu por astros mais risonhos,
Onde haja sempre amor, beijos, música, sonhos,
Onde possa fugir,
Sonhar,
E ir,
Para não mais voltar,
Ao luar...
1893.