NOTURNO EM LA MENOR

Do azul glauco que afunda

O plenilúnio alvar,

Cai, pulveriza a prata os vagalhões do mar...

Debaixo d'água funda,

Mas, longe espiralando,

Queixas, lamentos, eis, sobem, correm à flor

Vão,

Como duos de amor,

Na bemolização

Eólica de uma harpa, a chorar, a chorar,

Em fora pelo ar,

Ao luar...

Se a órbita do céu

Fosfórica se irrita

Com a vesga atração de em olho que nos fita

Turvo através de um véu,

Sem pálpebras, assombra

A pupila da lua,

A hipnotizar,

Fixa o dorso do mar como um fauno, na sombra,

Armando o bote, fixa uma bacate nua

Ao luar.

Nostálgico, adormece

No alto mar o clarão

Anodino da lua, enche-se o coração

Dentro do peito, cresce,

Bate como a onda ao luar, estua, o verso espuma

Do lábio a borbulhar,

E de asa aberta a voar, a voar de bruma em bruma,

Paira, desliza vaga,

A cismar,

De vaga em vaga,

Ao luar.

Nesta hora a alma delira

E devaneia, e à larga

Quer... mas amarra-a o corpo, essa pesada carga...

Então ela suspira

Pelo além, pelo céu por astros mais risonhos,

Onde haja sempre amor, beijos, música, sonhos,

Onde possa fugir,

Sonhar,

E ir,

Para não mais voltar,

Ao luar...

1893.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 14/02/2015
Código do texto: T5137034
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