A RADIOFONIA
(Aos bons amigos da "SPE",
Praia Vermelha)
Salve! Bem mereceis os versos que irradia
O Broadcasting ideal da eterna Poesia,
Dessa que se não dobra ás modas nem ás leis
E pelo coração, só, pode ser sintonizada...
Salve! Patrícios meus, denodados pioneiros
Da Radiofonia,
Salva! Bem mereceis, amigos meus, bem mereceis,
Pela vossa tarefa abençoada,
O aplauso e a gratidão de tantos Brasileiros!
Alô! Alô! Alô! Praia Vermelha
Que, só pelo poder de uma centelha
Elétrica, através do céu profundo.
Vais levando, a trezentos mil quilômetros
Toda as vibrações da voz humana,
A orquestração de toda a Natureza!
Que formidável força soberana,
Que inaudita grandeza
Não encerra
Essa onda hertziana,
Noite e dia espalhar mais veloz do que o vento,
De alma em alma, de lar em lar, de terra em terra,
A semente ideal do Pensamento!
É o símbolo real da Liberdade:
Nada lhe impede as triunfais viagens...
Zomba da tempestade,
As cerrações mais negras desafia,
E entre duas voragens,
-A voragem dos céus e a voragem dos mares, -
Percorre o mundo, dominando os ares!...
E quanto mais sombria
Desdobra a noite o manto, quanto mais
O tempo se enfarrusca, o céu se irrita,
A vaga desembesta,
E mais rugem no espaço os vendavais,
Estupenda, a vibrar na abóbada infinita,
Possante tanto mais se manifesta
A onda paradoxal, filha do raio,
Irmã gêmea da luz!
O gênio de Hertz, Branly, Marconi, celebrai-o,
Poeta do Universo.
Cltebrai-no no verso que traduz,
Muito melhor que a rasteira prosa,
Do nosso coração a voz misteriosa,
As irradiações supremas das de nossa alma!
Da paz na quadra harmoniosa e calma,
Na escuridão mais trágica da guerra,
No vale, na montanha,
Na mata, no deserto, em pleno mar,
No remanso do lar, essa onda fiel nos acompanha,
-Inefável viático do amor! -
E sentimos, então,
Que os corações repetem, solidários
Na alegria e na dor,
O mesmo palpitar do nosso coração,
Na aspérrima subida,
A subida perpétua aos perpétuos calvários
Da Vida!...
Salva! Bem mereceis os vossos que irradia
O Broadcasting ideal da eterna Poesia,
Dessa que se não dobra ás modas nem, ás leis
E pelo coração, só, pode, ser sintonizada...
Salve! Patrícios meus, denodados pioneiros
Da Radiofonia,
Salve! Bem mereceis, amigos meus, bem mereceis,
Pela vossa tarefa abençoada,
O aplauso e a gratidão de tantos brasileiros!
14 de outubro de 1924.
(Último Poesia em português, escrita pelo Autor, que faleceu no mês
seguinte, no dia 18 de novembro de 1924)