ARCANOS
(Literatura Russa)
"oh! ne t'etonne pas si le silence inonde
Sévèrement mon être es si je pense bas:
Des trésors sont dans l'eau profonde
Que l'océan ne trabit pas".
C. Constantinovitch.
Oh! Não te assombres, Flor, se acaso as minhas mágoas
Oculto e se o Mistério assim me envolve a vida,
Dando-me sempre à face a placides do gelo!...
Sob a glauca amplidão nostálgica das águas,
Sob aquele lençol de tênebras, querida,
Dormem, hás de sabê-lo,
Entre algas e corais, na profundez perdidos,
Segredos mil também,
Tesouros escondidos,
Que o Oceano jamais mostra a ninguém!
Pois bem; meu coração, profundo e enigmático,
Zelos esconde em si tesouros e mistérios
Que voz nenhum diz, que olhar nenhum devassa!...
Guarda-os sempre uma Esfinge; e ela um riso salvático
Tem, nictando na sombra os grandes olhos sérios,
Se mais perto alguém passa;
E estes tesouro meus, desta arte aferrolhados,
Só para o Coração
Foram amontoados,
Para ele só; para o Cabeça não!
Que o teu amor, sutil, discretamente sonde
O lúgubre, horizonte, a pavorosa treva
Desta alma, e sem a luz de um beijo ou de uma estrela,
Ouse afinal descer até ao pélago onde,
A Esfinge sempre a rir, irônica, se eleva
E os meus segredo vela...
Então se o monstro audaz ele puder domar,
Heróico, triunfante,
A luz de teu olhar,
Talvez desvendes tudo, ó minha amante,
Como a Luz que em dois o seu colar de pérolas
Parte, lança no fundo azul do mar bravio,
E desce e alastra de ouro as cristas das espumas,
Filtrando o beijo seu por entre as vagas cérulas,
Vencendo os temporais e afugentando as brumas
Do céu vesto e sombrio;
Porque ela, somente ela, a branca enamorada,
É quem conhece o Arcano
E contempla assombrada
Os ignotos tesouros do oceano!
Maio, 1894.
LIRA MODERNA - Diário de Notícias.