o VENTO QUE PASSA...

O vento que passa...

O vento manso passa de leve

Sobre meus cabelos cor de neve..

E a ventania sopra,

Levanta poeira, folhas secas

Formando um rodamoinho.

Saci Pererê dentro do rodamoinho

Dando risada e assobiando

Um assobio fininho

Que zune nas folhas de bananeira

e assusta quem passa no caminho...

Lamentos de alma perdida

Implorando por salvação

Velhas fazendas mal assombradas

Do tempo da escravidão

cheias de lendas e estórias

Contadas por quem jura que viu

O “Quero cair”

Caíndo do forro do quarto

Batendo em pé no assoalho

Fazendo tremer as taboas

Como barulho de trovão.

...e o vento manso passa de leve

Nos meus cabelos cor de neve...

Trazendo lembrança das lembranças

Dos meus cabelos negros

De belas tranças

Balançando no balanço

Das folhas de coqueiro,

Do laço que laçava os bois,

E o boiadeiro aboiando na estrada

Onde passa boi, passa boiada,

Também passa moreninha

Do cabelo cacheado.

...e o vento manso passa de leve

Nos meus cabelos cor de neve...

E o trem de ferro

Correndo pelos trilhos

Como um dragão

Soltando fogo pela boca, rasteando pelo chão.

Os trilhos até balançavam

E a terra toda tremia

E eu tremia de medo e emoção

Quando o trem de ferro passava

E arrastava

Com ele minha vida

Numa viagem tão comprida

Que até hoje se estende

Como os trilhos do trem de ferro

Me balançando no balanço

Da terra que tremia

Do fogo que saia

Da boca do dragão.

...e o vento manso passa de leve

Nos meus cabelos cor de neve...

marinaza
Enviado por marinaza em 15/02/2015
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