A LEI E A CORJA
(XXV)
(REFLEXO DE HUGO)
O que se chama Lei ou Constituição
É o antro que o Povo abre, ao rábido clarão
Das revoltas, brocando o mármore e o granito
Do monte da Verdade...
Em vão rouqueje o grito
Do Despotismo, em torno, horríssono, agoureiro,
Não pára, não recua o impávido mineiro;
Luta!... Nem os canhões de gorja ensanguentado,
Com seu trovão de bronze, impede-lhe a escalada.
Lá do monte na grimpa enlapado-lhe o seio.
Finda a batalha, o Povo ainda de sangue cheio,
No cofre do Direito encerra então, zeloso,
Das Glórias e das Leis o erário suntuoso,
Que arrebatou, depois de esforços mil, insanos,
Da rapina cruel, das garras dos tiranos.
Guarda-o seguro, aí no cume iluminado;
E como sentinela, ao umbral do antro sagrado,
Coloca a Liberdade, a fera impetuosa,
De ubíquo olhar divino e juba luminosa.
Isto pronto se acalma o Povo e heróico volta,
Apagando os brandões vermelhos da Revolta;
Regressa ao labutar honesto do Trabalho,
Enche o campo, a oficina, empunha o arado e o malho
E orgulhoso fitando o píncaro estrelado,
Monumento ideal por ele edificado,
Põe-se alegre a viver, à sombra de seu lar,
Desprezado os ladões que espreitam-lhe o valor.
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Dorme... Um dia afinal de súbito, surpreso,
A um rugido de alarme, ergue-se o Povo em peso...
Pega armas! a rugir, galga o monte sagrado,
Sinal de suas Leis, altar do seu Passado...
Mas recua de horror!...............................................................
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Tudo roubou a Corja, a Corja atroz, profana!...
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Do Povo então o olhar,que um véu de sangue empana,
Fuzila! em vez do altar, a tanto custo erguido,
Vê um poço de lama... o cofre destruido...
Procura a Liberdade... e uivando em roda ao morro,
Acha, em vez de um leão um tímido cachorro!...
Agosto de 1893. (RIMAS VERMELHAS)
LIRA MODERNA - Diário de Notícias.