MATER

Á Exma. Sra. D. Maria da Glória Correia De-Vecchi

(É um coração de Mãe que fala!"

Dizem: morreu! e nublam-se os olhares,

Cerraste os olhos, unes os pézinhos.

Eu sei... talvez para melhor sonhares

Com tua boa mãe e seus carinhos.

Mas, tem teu riso a mesma candidez,

Vejo-o sempre brincar em tua boca...

Dorme apenas... repito ainda uma vez,

Chamem-me embora todos uma louca!

Deixemo-los falar... sei que me enganas,

Sim, tudo isso não passa de um brinquedo,

Ou serão estas funerais, insanas

Lamentações que assim te metem medo?

Não é verdade, meu filhinho amado?...

Todo esse pranto em breve hás de enxugar,

Com teu suave beijo perfumado,

Com teu sereno e carinhoso o!lhar.

Estás vivo! estás vivo! a alma me brada,

E uma robusta e íntima esperança

Enche-me o peito como uma alvorada,

Enche-me o olhar que de esperar não cansa.

Sim! por que do contrário, oh! Deus clemente!

Seria uma infinita crueldade

M'o roubares assim, subitamente,

Em plena flor de sua rósea idade!

Filho! teu pai que ali chora de bruços,

Tua mãe, teus irmãos, teus, camaradas,

Não vês como entre gritos e soluções

Velam nas mãos as faces consternadas?

Todos de adoram, todos te estremecem,

Doiram-se a vida os rios e os carinhos,

Sob os teus frágeis pés ainda não crescem

Nem searas de abrolhos e de espinhos.

Escuta-me! eu t'o peço, oh! basta! acorda!...

Tem piedade desta dor, meu filho!

Vamos! move a pupila em cuja borda

Como que ainda corre um vago brilho!...

Por que não me ouves?... fala! este meu grito

De angústia tantas vezes repetido

Se não abala Deus lá no infinito.

Não chagará também ao teu ouvido,

Filho, não há de comover-te enfim?

Não vés como ela sofre, a tua Mãe?

Como ela anseia numa dor sem fim,

Embora todo o mundo em roda estranhe

Essa dúvida eterna que a enlouquece?

Não vês como ela tomba ajoelhada,

Numa suprema e dolorosa prece?...

Osculando-te a face enregelada?...

....................................................................

Oh! Morte! Oh! Infame! Oh! Ladra! Oh! crua Morte!

Morte sem alma! Morte sem entranhas!

Roubaste-m'o afinal, infausta sorte

Nele cevaste enfim as tuas sanhas!...

Vazio o berço, abandonado o ninho!

O Luto! O Horror! Somente a Dor que vela!

Já que arrancaste à Mãe o seu filhinho,

Por que ainda ter misericórdia dela?...

3 de setembro de 1894.

DR. EGAS MONIZ BARRETO DE ARAGÃO (PÉTHION DE VILLAR)
Enviado por Francisco Atila Moniz de Aragão em 18/02/2015
Reeditado em 18/02/2015
Código do texto: T5141322
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