Lago de ar

Cegas luzes incandescentes

Copos cheios covardes insistentes

O som quebra o gelo e a calma

As cinzas queimam o zelo e a alma

Cacos de vidas para juntar e colar

Lares e sonhos que vamos todos deixar pra lá

A idéia deixa o ócio e se esconde

O dia rasga a noite e explode

Canções sólidas para se tocar

Palavras e vozes adensando o ar

Tramas e dores para se imaginar

Tiros e gritos para se assustar

Nada por aqui que não se agite

Quem tirou afinal nosso limite?

Botafogo é um lago de ar

A varanda nos chamou aqui para pular

Para onde conseguiremos voar?

Com asas etílicas frágeis de se quebrar

Caiamos então, e corramos

Por becos e ruas que não nos percamos

Para bater de cara nos muros e portas que já tanto batemos

Para saber a hora dos encontros e furos que ainda não demos

Trago-lhe flores colhidas em terrenos baldios

Trago-lhe drogas que tirei de velhos sadios

Trago-lhe canções que roubei de loucos vadios

Trago-lhe o chão e o travesseiro macio

Trago-lhe esse céu, como se diz, azul anil

Trago-lhe esse corpo, farrapo, mofino, morto e vazio

James Douglas
Enviado por James Douglas em 05/06/2007
Código do texto: T514766