raras pairas do tucano de finados

num dia de finados

na alameda cinza

do meu jardim

havia um tucano

que olhava para mim

e assim foi

até o fim

da estação

e, nas primeiras manhãs

daquele verão

senti muita falta

daqueles olhos

redondos

do estranho tucano

do meu jardim

n'outra primavera

ele passou voando

nem parou, na nossa

ou só minha, alameda

numa tarde de inverno

a alameda cinza

estava desfolhada

eu sentia a perda

até ouvir um som

de reco-reco

não sei se era

o mesmo

talvez fosse até

um por ano

mas seguiram

sete primaveras

o eco

e sete dias de finados

findando minhas artérias

enquanto raras pairas

sustentavam a ilusão

de erigir um canto bom

vindo de alguma sensação

de um coração bom

um dia, que ele voou

e eu percebi

que o tucano

parecia saber de tudo

o que eu sentia

o dístico destino:

primavera

& finados

um conto que finda

amarrado com fita

n'outro dia, dos mortos

meus sentimentos

ficaram órfãos

do tucano que não sabia amar

e que, de luto

seguiu

em pairas

algum rumo

por isso,

eu sumo

não perdoo quem sabe voar

sem saber olhar o céu

nem quem não quer

um ninho ou um galho

para pousar

e chamar

de lar

Gianne Lorena
Enviado por Gianne Lorena em 24/02/2015
Reeditado em 05/07/2016
Código do texto: T5148027
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