Retrato escrito: Uma turista em São Paulo

Seu olhar não se encontra no centro;

O centro é uma grade de ferro

Fria, corrosiva, dura como a vida:

Vida dura como capital;

Não dura - falta de compaixão.

Dura - lapidada cuidadosamente.

Frio traduzido.

O olhar à direita, psiqué perdida de turista.

Mas, olha! Em seus olhos não há perdição.

A cara de uma musa, estatua.

Estatueta, sim, é. Prêmio de fotografia.

Seus olhos não expressam o labirinto paulistano,

A confusão hermeticamente construída em ruas.

Engenho de poeta, não de engenheiro.

Veja só, as colunas trabalhadas, como elas mexem

Sem precisamente mexerem.

O cabelo da moça desliza como quem é água:

Juba de Leão, domada é a juba. Ela não.

Linda, porém essa palavra já é gasta para traduzi-la.

Para seu rosto, palavra nenhuma foi convencionada ainda

E São Paulo briga (ou é mais uma vez a foto?).

Seus olhos: homem;

Seus cílios: índio;

Seu nariz: escultura;

Sua boca: o que confunde São Paulo;

Seu queixo: a base das bochechas;

Bochechas: colunas;

Pescoço: cortina de seda

Daquelas que existem nos haréns;

Seu busto é um balé visual.

Ela é diferente de São Paulo,

Porém São Paulo combina com ela.

São Paulo necessita dela, a foto não seria nada.

Ela não é nada, e nem está no centro.

A beleza de um violão,

Não pela forma, mas pelo som.

Concreto cinza, ela azul,

Pura contradição em cores.

Esta mulher olha para ti,

Pois é de você que a foto é tirada.

Tua percepção absorvida pelo seu olhar.

Breno Leal
Enviado por Breno Leal em 25/02/2015
Reeditado em 08/04/2015
Código do texto: T5149301
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