Tempos modernos

Onde está a criança/

O tempo da dança/

A bailarina/

Aquela menina/

Que saltava/

Que brincava e roda/

Que brincava de boneca e olhava do portão/

Que inventava carrinhos e aviãozinhos de latas/

Que nas corredeiras da chuvas acompanhava os barquinhos de papel/

Que andava pelas ruas com as pernas de paus/

Onde estão as crianças/

Que invadiam as árvores/

Que inventaram o quintal/

Que deitavam a sombra na rede/

Que cantavam/

Que ouviam estórias/

Que esperavam chegar/

Onde estão as crianças/

Que tinham medo do escuro/

Que pulavam os muros/

Que imaginavam nas nuvens/

Que sonhavam ilusão/

Que riam a toa da solidão/

Que choravam/

Que jogavam bola nas ruas/

Que soltavam papagaios/

Que enxergavam São Jorge na lua/

Que se tornavam compadres, faziam fogueiras/

Dançavam quadrilhas/

Casavam na roça e soltavam estalinhos nas noites de são João/

Quem parou de sonhar/

Quem parou de ensinar/

Quem deixou de amar/

A desordem sai por ai roubando das vidas/

A infância perdida/

E nós ficamos apenas indiferentes/

A ver no trânsito/

Dos sinais fechados/

A realidade esquecida/

Dos filhos do Brasil/

Meu Deus/

Onde estão as crianças do lar/

Que hoje sem par/

Vivem a se esconder/