Na sola dos meus passos, estórias pra inventar
Nunca digo para onde vou
Simplesmente sigo em transgressão
Pelas ruas escuras dos becos da fome
Sedento, aéreo, contemplando o luar
Vou cortando o solo escuro do bairro negro
E canto roucamente uma canção antiga
No repertório dos meus passos largos
Singro indeciso, riachos, mangues e marés
Por onde fujo de mim mesmo
De peito aberto, mergulho profundo
Nas águas escuras de dejetos abandonados
Sem razão nenhuma, vou à outra margem
E retorno, e vou novamente pela lama
Misturado ao barro, grito pelos deuses esquecidos
Ratos, caranguejos e baratas
Transcorrem meu corpo em harmonia
Meus cabelos são ervas e raízes
Em contraste com meus olhos sem brilho
Não escuto nada dos ruídos
Apenas uma voz que vai brotando
Crescendo, inflando na mente ébria
Enquanto desenho com um graveto apodrecido
O desejo pueril de um amanhã feliz.