A VOZ DO POETA

Para cantar do amor suas dores e alegrias,
o poeta tem que ser criatura ambivalente.
Não pode apenas, somente,
restringir-se a um estado.
O poeta que é poeta, 
não tem sexo não tem nome,
o que o impele é a ânsia,
esse fogo que o consome
de lançar suas palavras
no lirismo de um poema
falando de amor - sem temor,
em voz alta, forte e plena.

Algumas vezes é o macho
repleto de amor e luxúria;
outras vezes é a fêmea
sensual, despudorada,
ou a menina traquinas,
doce e terna namorada.

O poeta que é poeta
pode ser o que quiser,
não faz diferença se é homem,
que importa se, acaso, é mulher?

Pois, na verdade, te digo:
o poeta vive além da realidade concreta.
É um mago transmudado,
um sonhador desmedido,
que habita um mundo encantado
e divide o sonho contigo.