DA VIDA

Eu estou cheio de regras e normas,

De acorda as seis,

De abrir a loja as sete,

De almoçar as doze,

De fechar a loja as seis da tarde,

De chegar em casa as sete,

De comer as oitos da noite,

De ver o jornal,

De dormir as vinte e três.

Eu estou cheio,

Assim...

Não amo minha cama

Não amo meu trabalho,

Não amo meu alimento,

Não amo a volta pra casa,

Não amo minha casa,

Não as minhas pessoas,

Há algo muito triste em minha vida!

Poeta que não canta...

Homem que não vinga!

Nem aceito atritos...

Dorme feitos os tolos.

Há algo muito triste em minha vida!

Vim de salgadinho, minha cidade,

Onde tenho pais e toda família,

Onde não tenho a mim mesmo.

Ninguém sabe de mim,

E todos sabem da minha família.

Há algo muito triste em minha vida,

Não mordo,

Não cuspo,

Não cometo delitos,

Não me amostro,

Não me desvio,

Não minto, “pouquinho”.

Não aponto,

Nem entrego,

Nem xingo.

Que vida levo eu?

Há algo muito triste em minha vida.

Não me assumo homem,

Não me assumo poeta,

Não me assumo pessoa,

Quem sou?

Estou cheio,

E o meu porre parece de sempre,

Estou cheio,

E finjo todo dia,

Estou cheio,

E parece que nem ando triste!

Severino Filho
Enviado por Severino Filho em 09/04/2015
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