Panteão da Saudade – meu Mausoléu

Comprei minha pretendida e aguardada sepultura.

Comprei-a antes q’de meu corpo a alma faça ruptura.

A aquisição deu-se não por impremeditado arranjo...

Sentado eu à cama e numa lufada surge-me um anjo

Ainda que, se preciso for, desse ente não me desaparto.

Parado ficou sem nada falar no aconchegante quarto.

Parece-me ter adentrado com certo vento de brandura

Nunca tive um a me segredar o que cogito e faço...

Mas quem é que não vive no nebuloso espaço?

Gosto de tomar todas para ficar longe, nas alturas

Mas o dinheiro que tenho guardado dá pra aquisitar um...

E que se não fosse desse jeito, iria torra-lo no rum...

Quero-a do meu modo e jeito toda florida

Toda branca, sem cruz, mui bem ajardinada

Feita do meu modo e jeito nessa torta vida

Para que nela não falte absolutamente nada

Quero-a um bom leito sem algo admirável...

Sei que ela vai ser singelo acolhedor albergue

Pra aconchegar minha pobre alma amorável

Antes mesmo que o perverso Diabo a carregue.

Livrando-a deste sofrimento q’é viva chama;

Da chama do desejo de interminável paixão;

Da chama de ter sempre alguém na cama;

Da ardente chama dum espavorido coração.

De comovente singeleza pura ela vai ser...

Além de simples vai ter uma significante placa

Aos que lerem saber de minha tola frajolice:

Vivi entre fino cetim, linho, seda e alpaca

Coisas que não levo pós túmulo, bem sei

Usei-as por teimosa vaidade, esmerada burrice

Talvez possuído de inominável gula; errei!

Assim parto, mas ficam aí todos os doridos sofrimentos

Porque cônscio stou, não vão estar comigo noutra parada...

Haverá inscrito iniludível, como atestando arrependimento:

Aquijazeternamentumeuquenuncatevapegoanada.