Alice Nua

Alice nua no olhar

Que a lente captura entre as mãos

Qual ave ingênua e vulgar

Cercada por minha intenção

No estalo do tempo nas paredes,

Doce crime que ainda não é meu;

No meu foco, celas enquadradas;

Nelas, Alice, e o seu fim sou eu.

Não é arma o desejo incontido

De um dia completar seus passos,

Mas a assimetria da alma

Escondida em nossos frágeis laços

E nas histórias que conto pra mim

Me traduzo em você.

Minha musa com prosa fecundei

Exalando fuga sob o sol

Das mil tardes secas que criei

A partir de um fôlego só

Sobre ela sou eu meu confidente,

Mas pra ela conto sobre mim.

Nunca sabe, por mais que lhe revele,

Que me traio mas me aproximo assim.

Se nas sílabas sinto o peso

Que leva a tremer a fala,

Cultivarei meu jardim de vozes

Para em coro então chamá-la.

São só dela, portanto, as quinas

Da minha fé tão angulosa,

Erodida, condenada em si

E perfeita porque desgostosa.

E em meus recantos de infância, Alice,

Eu desnudo você.

Rodrigo Fróes
Enviado por Rodrigo Fróes em 12/06/2007
Reeditado em 18/06/2007
Código do texto: T523132