VARANDA

1

Seria olhar para a tela e ficar surpreendido, nem uma paisagem de William Turner nem as figuras de Paul Gauguin. A luminosidade e a cor, apenas uma sombra eléctrica diluída pelo asfalto era dominante num momento de perder o destino, qualquer movimento físico do corpo, talvez a ambiguidade que domina a visão. A sugestão da arte e a invenção da realidade, as palavras criadas para saber produzir um sentido. Eram 18 HORAS, sob a filigrana da chuva, lembrei-me de tudo que fica oculto na memória, isto é, a impossibilidade de poder reproduzir o indizível. Uma sombra eléctrica numa capital, o dia caminhava para o seu fim, todos os vidros urbanos liquesciam.

2

“Os nebulosos ventos”, afirmava John Keats. Num exercício de ASSOCIAÇÃO livre respondi que afinal havia um destino, mais para sul onde estariam praias varridas pelo sol e pelo ar íntegro de uma claridade de pássaros sobre a longitude do mar. Nunca é fácil interpretar um poema, mesmo com a agulha de uma bússola, a certeza de uma lei científica, o esperado rigor da mecânica quântica. Vejamos: a noite dá o título a estes apontamentos de palavras e frases e textos, no corredor da existência multiplicam-se espelhos vagamente decifrados, ao fundo: há sempre uma curva que nunca dobramos.

3

Na raiz da noite as árvores entram pelas janelas, algumas folhas escritas apoderam-se da vontade de imaginar.

De uma VARANDA: o mundo.

Carlos Frazão
Enviado por Carlos Frazão em 06/05/2015
Reeditado em 26/01/2016
Código do texto: T5232599
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