O PINTOR, O COSTUREIRO E A DAMA (para Olavo Bilac)
Aqui está o pintor, retoma seu árduo trabalho
de retratar a dama chamada literatura
em grande alegoria esboçada no painel
onde aparecem os traços de um costureiro
atendendo uma elegante dama em seu ateliê.
Esbanja requinte, mistura estilos
define o que fica fora da moldura.
É na paleta das sílabas que recolhe
o rubor das raparigas para não faltar
na composição as delicias da infância.
É tarde quando a fazenda chega às mãos do costureiro,
o sol se pôs sobre a ampla superfície estampada.
Finalmente, é tarde. A luz é inventada.
O pintor não é conciso nem verborrágico,
a cena também comporta o vazio,
o insuportável para a moldura.
Mãos ao corte,
que tem boa caída as figuras alinhavadas
e o tecido cru expressa o cansaço do algodão
nas sacas empoeiradas sem uso.
Acrescenta para cortar o redor,
para cercear e decotar, recorta
para aparar e para dividir, acentua
tão necessária para cerzir a emenda
a fina luz que incide sobre a dama.
O pintor separa das cores primas
os sons siameses, e afasta
o elemento
opaco do sem cor.
Para o fabrico do belo vestido
cinge o modelo à altura dos lombos.
Desdita do sapateiro a Apeles.
Assim a língua, dama culta e bela,
encontra vigor na expressão da tinta
e sua força na estabilidade do salto.
Logo o quadro estará pronto
grande painel decorativo
ocupado no centro
pela dama
ainda nua.
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Baltazar