Saudação ao nada.

Seu quadril está envolto e confortável

Está aquecida no inverno

Está correndo por entre as árvores de mãos dadas

Modestamente faz pouco de si

não sabendo o quão incrível é

Está sorrindo agora

dentes imperfeitamente enfileirados

esperando completar sua vida com outra

Invejo os dedos que entrelaçam seus cabelos

e o teto de madeira a contempla-la à noite

Invejo as possibilidades

e as temo

Minhas veias as temem

não sabendo mais quanto podem transportar

esse nome em minha corrente sanguínea

que se espessa cada dia mais

Queria contar as paredes sua sorte

Refaria a cortina do seu quarto

e jogaria fora todos os meus isqueiros

Mas agora oque me cabe é enfeitar minha mochila

costurar aquele furo do meu tênis

Ah, também tenho que lavar e louça e tirar o lixo

varrer esses milhares de quilômetros

e na volta dar bom dia ao vizinho

E com o resto de minhas forçar lembrar

Que estamos no mesmo mundo

mas que os nossos mundos não estão no mesmo

Amanhã tenho que acordar cedo e levar minha vida pra passear

mas não durmo sem pensar nela

Facas não fazem barulho
Enviado por Facas não fazem barulho em 25/05/2015
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