ADEUS AO VERÃO
Partem em revoada as derradeiras
nuvens negras outrora adormecidas
na profundeza celestial.
Há dentro da noite um vento frio
que sopra na copa das árvores,
e um brilho de luar refratário, quase
melancólico.
Pairam no pensamento lembranças
errantes, arrefecidas ao final
de mais uma estação.
É terminado o verão...
A menina repousa suas pupilas
sobre o cinturão de Órion.
O coração pequenino palpita veloz
num amálgama de medo e deleite.
Dentro da noite caminha uma centelha
(mariposa de fogo a tocar-lhe a palma
sem que à tez cause dano)
diluída sob o pálio do sorriso
juvenil.
Na crina do tempo outras estações
preencheram os vagos dos anos.
Verões caudalosos, invernos rigorosos,
primaveras cinzentas, outonos cadivos...
No coração da menina-mulher
vige em silêncio uma centelha,
perene farol a irradiar sua luz
por sobre as águas do desassossego.
***
RVD, 28/05/15