A Dor das Palavras

Não escrevo nenhum poema, pois tenho medo da dor. Tenho medo! Mas elas, as palavras, não dão sossego, não me deixam dormir. Elas entram e impregnam-se na minha mente. Querem falar, querem viver. As palavras são parasitas sem as quais não se consegue viver.

No mundo mágico das coisas, o mundo só é mundo, o mágico só é mágico, as coisas só são coisas se as palavras existirem para dizerem que de fato o são. Elas me tomam pelos braços, braços que elas dizem são, e me afogam no afã por mim imensurável e no desejo de dizer.

As palavras nada falam, não dizem nada, são exibidas. Cada uma delas tem mil faces, mil conceitos de outras mil, e se perdem no limo de um coração ainda griso. Fala! Fala! Implora meu coração! Mas elas se calam. São meninos mimados, cheios de vontade própria.

Minha fada madrinha, meu lenço de estimação, meu confete de alegria, meu consolo de mãos, meu amigo cortez, meu companheiro de faina, e se dizes que é minha, me calas a boca com teu silêncio. Ah! Doce apatia. Se queres vou te ninar, se não calarei minha boca para te agradar.

Ante a enorme euforia da explosão do susto do desencanto que me trás a agonia, ora tu és meu dia de griso essa intensa letargia. Ora me fazes sorrir, cantar, pular de alegria, festejar como rei. O que queres de mim? Diga! Se és de mim a vida, viver a seu mando é calar e chorar meu pranto, isso se diz ser.