Meu passo

O asfalto firme da rua

afunda sob os meus pés;

porque é Poesia o meu passo,

real, concreto mas novo.

Meu passo existe, mas não

é só pressão dura e seca.

Eu trago bem escondido

embaixo dele um pedaço

perdido de algo qualquer,

que faz mudar o caminho

pisado; porém só o meu.

O resto fica uniforme.

Os outros passam qual sombras

e não produzem qualquer

estado insólito, e então

encalcam meu pavimento.

O meu terreno é macio,

macio pois não precisa.

Macio é ócio, mister

a todo ser vivo humano.

Mas eis que pisam nas flores,

depois abatem os pássaros;

e o chão se torna inflexível,

e o passo é duro e fadado.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 03/07/2015
Reeditado em 18/04/2016
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