PÁSSARO
Voo entre vestes das brumas matinais,
leve como uma canção de ninar.
Toco o horizonte com a ponta dos dedos,
e sinto a mão que separa o homem do destino.
Vejo, escondidas, entre as colunas do tempo,
silhuetas  de nomes que já não existem mais.
Confundo os sorrisos embotados da madrugada 
com as sombras monocromáticas do luar.
Voo, perdido, ao encontro de uma manhã qualquer,
lembrando do dia sonolento em que nasci.
Vejo meu rosto refletido na aura da tempestade,
Pouso, por um instante, o olhar insignificante
num galho de uma árvore dos pomos perfeitos.
Mais veloz do que, de Marte, o pensamento,
singro e sangro os ares como um projétil erradio.
As cores, que até aqui, eram apenas lugares secretos
não são mais do que meros afrescos de Michelangelo,
e nada além de traços obliquamente  paralelos de Mondrian.
Nas asas do vento, voam meus confusos sentimentos,
misteriosos como o olhar assustado dos amantes.
Nas filigranas imperfeitas das auroras boreais,
leio os caracteres imprecisos de uma dor incessante.
Encontro um tempo anterior ao tempo passado,
e neste voo sincronizado com a vida e a morte,
vou pisando as estrelas no chão de ouro e lama,
unindo, no céu, os pontos de carvão e diamante.
Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 11/07/2015
Reeditado em 26/07/2015
Código do texto: T5307458
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