SOBRE AMORES GRIS

Já aqui dentro bate um coração defeituoso

Triste e calejado pela intempérie daquilo que chamam "natureza humana"

Mas ele volta bater com força, claro não com a força do tempo dos sonhos, mas sim com a apatia de uma dita "maturidade"

Como uma ressurreição.

E como cadáver renascido, volta zumbi, sim, traz no seu reviver os traços de sua pregressa morte

Nasce em flor acanhada um amor gris que preenche, mas não completa

Como um nascer de sol em manhã de inverno que alegra, mas não aquece

Coração... Que coração vem a ser esse? Que nem coração mesmo se considera?

Velho e razinza por vezes, numa consciencia fronteiriça, se vê mais como uma esquizofrenia de dez graus de miopia

Bate sem esperança, cansado, mas bate com certa alegria

Mas com o péssimo costume racionalista de tentar ver uma finalidade em tudo

Bate descrente, bate alheio

Pois já as estrelas não são mais do que bolas de gás, reluzentememte tardias

Sua luz póstuma e desencantada foi tudo que restou para alcançar de maneira débil as ilusões de um amor que desacredita de si

Que conforta, mas não enaltece, que arranca sem o menor esforço um sorriso, mas que jamais custará o peso de uma lágrima

E que se faz digno apenas deste poema descrente e indigno